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As soluções da equação radial

Vamos então procurar soluções da Eq.(140) da forma
\begin{displaymath}
u(\rho) = F(\rho)\exp{-\frac{\rho}{2}} \;\;,
\end{displaymath} (149)

$F(\rho)$ sendo um polinômio em $\rho$. A razão de ser um polinômio é que o comportamento assintótico de (149) deve ainda ser dado pelo termo exponencial, o que é garantido se $F(\rho)$ for um polinômio. Uma análise mais fina mostraria que, se se admitisse que $F(\rho)$ fosse uma série infinita, sua soma seria essencialmente uma exponencial em $\rho$, alterando o comportamento assintótico.12 Seja $F(\rho)$ uma expressão da forma
\begin{displaymath}
F(\rho)=\sum_{k=1}^{\infty}A_{k}\rho ^{k}\;\;,
\end{displaymath} (150)

onde a potência mais baixa é a primeira para assegurar que

\begin{displaymath}
F(0)=0 \;\;.
\end{displaymath}

Derivando termo a termo, temos

\begin{eqnarray*}
\frac{dF}{d\rho} & = & \sum_{k=1}^{\infty}kA_{k}\rho ^{k-1}\\...
...^2F}{d\rho ^2} & = & \sum_{k=1}^{\infty}k(k-1)A_{k}\rho
^{k-2}
\end{eqnarray*}



Inserindo estas expressões na Eq.(150), temos
\begin{displaymath}
\sum_{k=1}^{\infty}\left\{k(k-1)A_{k}\rho ^{k-2}-kA_{k}\rh...
...}{\rho}-\frac{l(l+1)}{\rho
^2}\right]A_{k}\rho^{k}\right\}=0
\end{displaymath} (151)

O coeficiente da potência $k$ de $\rho$ é dado por
\begin{displaymath}
(k+2)(k+1)A_{k+2}-(k+1)A_{k+1}+\lambda A_{k+1}-l(l+1)A_{k+2}=0
\end{displaymath} (152)

para que a equação diferencial seja satisfeita termo a termo. Diminuindo o valorde $k$ de uma unidade, temos uma relação mais conveniente:
\begin{displaymath}
A_{k+1}\left[(k+1)k-l(l+1)\right] = (k-\lambda) A_k
\end{displaymath} (153)

ou, equivalentemente,
\begin{displaymath}
\frac{A_{k+1}}{A_{k}}= \frac{k-\lambda}{(k+1)k-l(l+1)} \;\; para
\;\; k \geq 2
\end{displaymath} (154)

Para os índices mais baixos temos as equações
\begin{displaymath}
A_{1}l(l+1)=0
\end{displaymath} (155)


\begin{displaymath}
\left[2-l(l+1)\right]A_2 + (\lambda -1)A_1 =0
\end{displaymath} (156)

A equação (154) é muito importante. Dela vemos que, para que a série se interrompa em algum ponto, tornando-se um polinômio, devemos ter que $\lambda = k$. Ora, os $k$ são inteiros, logo, a condição para que a série se interrompa é que exista um inteiro $n$ tal que
\begin{displaymath}
\lambda = n
\end{displaymath} (157)

Como

\begin{displaymath}
\lambda = \sqrt{\frac{m}{2\vert E\vert}}\; \frac{Ze^2}{\hbar}=n
\end{displaymath}

temos
\begin{displaymath}
\vert E\vert=\frac{Z^2 e^4 m}{2\hbar^2} \; \frac{1}{n^2}
\end{displaymath} (158)

ou, eqüivalentemente,
\begin{displaymath}
E_{n}=-\frac{Z^2 e^4 m}{2\hbar^2}\; \frac{1}{n^2} \;\;,
\end{displaymath} (159)

que é a fórmula de Bohr! Voltando ao cálculo das autofunções, além da condição $\lambda = n$, devemos ter que $\lambda \neq l$, de outra forma, na equação (154), o denominador se anularia ao mesmo tempo que o numerador, não garantindo o anulamento do coeficiente $A_{k+1}$. Portanto devemos ter $l \neq n$. Vamos construir as primeiras soluções. Tomemos $\lambda = n =1$ A este valor corresponde a energia

\begin{displaymath}
E=-\frac{Z^2 e^4 m}{2\hbar ^2}
\end{displaymath}

que é a energia do estado fundamental do átomo de hidrogênio (o de energia mais baixa). Para este valor de $\lambda$ podemos ter $l=0$, mas não $l=1$. Então, das equações

\begin{eqnarray*}
A_1 l(l+1) & = & 0\\
\left[2 - l(l+1)\right]A_2 = (\lambda -1)A_1
\end{eqnarray*}



temos Que $A_1$ é indeterminado, e $A_2 =0$, assim como os coeficientes de índice mais alto. Temos então, para a solução,
\begin{displaymath}
F(\rho)=A_{1}\rho
\end{displaymath} (160)

e
\begin{displaymath}
R(\rho)=A_{1}\exp{-\frac{\rho}{2}}
\end{displaymath} (161)

Em termos de $r$, usando

\begin{displaymath}
\rho = \frac{\sqrt{8m\vert E\vert}}{\hbar}\;r
\end{displaymath}

e introduzindo

\begin{displaymath}
a_0=\frac{\hbar^2}{me^2} \;\;,
\end{displaymath}

denominado raio de Bohr, obtemos, após cálculos simples,

\begin{displaymath}
\rho = \frac{2Zr}{n a_0}
\end{displaymath}

Para o estado fundamental, temos, então,
\begin{displaymath}
R_{1}(r) = A_1 \exp{-\frac{Zr}{a_0}}
\end{displaymath} (162)

que é também a função completa, pois $Y_{00}$ é constante. Para $\lambda = n = 2$ temos as possibilidades $l=0$ e $l=1$. Para o primeiro caso, temos, novamente, $A_1$ indeterminado. Para $A_2$, usamos a equação (153), que dá

\begin{displaymath}
A_2 = \frac{1-2}{1.2}A_1
\end{displaymath}

ou seja,

\begin{displaymath}
A_2 = -\frac{1}{2}A_1
\end{displaymath}

A solução então é
\begin{displaymath}
F(\rho)=A_1\left(\rho - \frac{\rho^2}{2}\right)
\end{displaymath} (163)

e
\begin{displaymath}
R(\rho) = A_1\left(1-\frac{\rho}{2}\right)\exp{-\frac{\rho}{2}}
\end{displaymath} (164)

Expressando em termos de $r$, obtemos
\begin{displaymath}
\psi_{200}= A_1 \left(1 - \frac{Zr}{2 a_0}\right)\exp{-\frac{Zr}{2
a_0}}
\end{displaymath} (165)

onde usamos a notação tradicional para os autoestados do átomo de hidrogênio: $\psi_{nlm}(r,\theta,\phi)$. O leitor, neste ponto, deveria ser capaz de mostrar que
\begin{displaymath}
\psi_{20m}= A_2 \frac{Zr}{a_0}\exp{(-\frac{Zr}{2a_0})}\;
Y_{0\;0}(\theta, \phi)
\end{displaymath} (166)

No segundo caso, $l=1$,vemos, da Eq.(155), que

\begin{displaymath}
A_1 =0
\end{displaymath}

enquanto $A_2$ é indeterminado. $A_3=0$, assim como os índices mais altos. Logo,

\begin{displaymath}
F(\rho)=A_{2}\rho ^2
\end{displaymath}

A expressão em termos de $r$ vem a ser
\begin{displaymath}
R_{21}(r)= K
\frac{1}{\sqrt{3}}\;\frac{Zr}{a_0}\exp{(-\frac{Zr}{2a_0})}
\end{displaymath} (167)

Como vimos, a função radial fica definida quando se dão os valores de $n$ e $l$. Por isso ela é denotada por $R_{nl}(r)$. Para o caso de $l=1$ a dependência angular não é trivial.pois temos
\begin{displaymath}
\psi_{nlm}(r,\theta,\phi)= K R_{nl}(r)Y_{lm}(\theta, \phi)
\end{displaymath} (168)

que, nesse caso dá
\begin{displaymath}
\psi_{21m}(r,\theta,
\phi)=K\frac{1}{\sqrt{3}}\;\frac{Zr}{a_0}\exp{(-\frac{Zr}{2a_0})}Y_{1m}(\theta,
\phi)
\end{displaymath} (169)

com $m$ podendo tomar os valores 1, 0, e -1. Note que a energia fica totalmente determinada por $n$. Então, exceto pelo estado fundamental, a cada nível de energia correspondem mais de um estado do sistema. O espectro é dito degenerado (no bom sentido!). Considere, por exemplo, o nível de energia com $n=2$. Podemos ter $l=0$, que dá um único estado, ou $l=1$, que admite 3 valores de $m$. No total, então, há 4 estados neste nível de energia. Diz-se que o grau de degenerescência é 4. É fácil provar que o grau de degenerescência do nível $n$ é $n^2$. O numero quântico $n$ é denominado número quântico principal. A seguir apresentamos uma lista das partes radiais de algumas funções de onda do átomo de hidrogênio.
$\displaystyle R_{10}(r)$ $\textstyle =$ $\displaystyle \left(\frac{Z}{a_0}\right)^{\frac{3}{2}}\;2\;\exp{\left(-\frac{Zr}{a_0}\right)}$ (170)
$\displaystyle R_{20}(r)$ $\textstyle =$ $\displaystyle \left(\frac{Z}{2a_0}\right)^{\frac{3}{2}}\;2\left(1-\frac{1}{2}\frac{Zr}{a_0}\right)
\exp{\left(-\frac{1}{2}\frac{Zr}{a_0}\right)}$ (171)
$\displaystyle R_{21}(r)$ $\textstyle =$ $\displaystyle \left(\frac{Z}{2a_0}\right)^{\frac{3}{2}}\;\frac{1}{\sqrt{3}}\frac{Zr}{a_0}
\exp{\left(-\frac{1}{2}\;\frac{Zr}{a_0}\right)}$ (172)
$\displaystyle R_{30}(r)$ $\textstyle =$ $\displaystyle \left(\frac{Z}{3a_0}\right)^{\frac{3}{2}}\;2\left[1-\frac{2}{3}\f...
...(\frac{Zr}{a_0}\right)^2\right]
\exp{\left(-\frac{1}{3}\;\frac{Zr}{a_0}\right)}$ (173)
$\displaystyle R_{31}(r)$ $\textstyle =$ $\displaystyle \left(\frac{Z}{3a_0}\right)^{\frac{3}{2}}\;\frac{4\sqrt{2}}{3}
\f...
...ac{1}{6}\;\frac{Zr}{a_0}\right)
\exp{\left(-\frac{1}{3}\;\frac{Zr}{a_0}\right)}$ (174)
$\displaystyle R_{32}(r)$ $\textstyle =$ $\displaystyle \left(\frac{Z}{3a_0}\right)^{\frac{3}{2}}\;\frac{2\sqrt{2}}
{27\s...
...}}\left(\frac{Zr}{a_0}\right)^2\exp{\left(-\frac{1}{3}
\;\frac{Zr}{a_0}\right)}$ (175)


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Henrique Fleming 2003-03-30