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Rotações em 3 dimensões

Uma rotação infinitesimal em três dimensões é definida como uma transformação linear

$\displaystyle x^{\prime}_{i}=\sum_{j}(\delta_{ij}+\omega_{ij})x^{j}$    com $\displaystyle i,j=1,2,3.$ (68)

tal que

$\displaystyle \sum_{i} x^{\prime}_{i}x^{\prime}_{i}=\sum_{j}x_{j}x_{j}$ (69)

Também neste caso a condição necessária e suficiente para que (68) seja uma rotação é que

$\displaystyle \omega_{ij}=-\omega_{ji}$ (70)

e o bonito é que a demonstração é exatamente a mesma! Podem-se usar, passo a passo, as mesmas equações que no caso de duas dimensões. Melhor, a demostração continua válida para um número qualquer de dimensões! A única coisa que muda é o número de valores que os íindices assumem, mas este número não desempenhou qualquer papel da demonstração.

Para resumir: quando se realiza, sobre o sistema de eixos, uma rotação infinitesimal, caracterizada pelos parâmetros infinitesimais $ \omega_{ij}=-\omega_{ji}$, as coordenadas de um ponto fixo do espaço se transformam assim:

$\displaystyle x^{\prime}_{i}=x_{i}+ \sum_{j}\omega_{ij}x_{j}$ (71)

As componentes de um vetor fixo do espaço, sob esta mesma rotação, transformam-se assim:

$\displaystyle V^{\prime}_{i} = V_{i}+\sum_{j}\omega_{ij}V_{j}$ (72)



Exercício: mostrar que o produto escalar de dois vetores é invariante sob rotações:

$\displaystyle \vec{V}.\vec{W}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \sum_{i}V^{\prime}_{i}W^{\prime}_{i}$ (73)
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \sum_{i}\left(V_{i}+\sum_{j}\omega_{ij}V_{j}\right)
\left(W_{i}+\sum_{k}\omega_{ik}W_{k}\right)$ (74)
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \sum_{i}V_{i}W_{i}+\sum_{i}\sum_{j}\omega_{ij}W_{i}V_{j}+
\sum_{i}\sum_{k}\omega_{ik}V_{i}W_{k}$ (75)
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \sum_{i}V_{i}W_{i}+
\sum_{i}\sum_{j}(\omega_{ij}+\omega_{ji})W_{i}V_{j}$ (76)
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \sum_{i}V_{i}W_{i}$ (77)

Exercício: dada a transformação infinitesimal

$\displaystyle x^{\prime} = x_{i}+\sum_{j}\omega_{ij}x_{j}$ (78)

determinar a transformação inversa.
A inversa é

$\displaystyle x_{i}=x^{\prime}_{i}-\sum_{j}\omega_{ij}x^{\prime}_{j}$ (79)

A verificação é imediata.

Exercício: determinar a transformação nas derivadas parciais das coordenadas, por uma rotação infinitesimal.
Pela regra da cadeia, temos

$\displaystyle \frac{\partial}{\partial x^{\prime}_{i}}=\sum_{j}\frac{\partial x_{j}}{\partial x^{\prime}_{i}}\frac{\partial}{\partial x_{j}}$ (80)

Como

$\displaystyle x_{j}=x^{\prime}_{j}-\omega_{ji}x^{\prime}_{i}$ (81)

temos

$\displaystyle \frac{\partial x_{j}}{\partial x^{\prime}_{i}}=\delta_{ij}-
\omega_{ji}
$

e, portanto,

$\displaystyle \frac{\partial }{\partial x^{\prime}_{i}}=(\delta_{ij}-\omega_{ji...
...j}}=\frac{\partial}{\partial x_{i}}- \omega_{ji}\frac{\partial}{\partial x_{j}}$ (82)

É conveniente lembrar aqui a fórmula de transformação de um vetor, sob rotações infinitesimais:

$\displaystyle A^{\prime}_{i} = A_{i}+\omega_{ij}A_{j}$ (83)

Vamos agora achar a fórmula de transformação da seguinte quantidade:

$\displaystyle \sum_{i}\frac{\partial A^{\prime}_{i}}{\partial x^{\prime}_{i}}
$

A expressão acima não é outra coisa que o divergente de $ \vec{A}$ calculado no referencial em que as coordenadas são $ x^{\prime}_{i}$. Ora,
$\displaystyle \sum_{i}\frac{\partial A^{\prime}_{i}}{\partial x^{\prime}_{i}}
$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \sum_{i,j,l}\left(\frac{\partial}{\partial x_{i}}-\omega_{ji}\frac{\partial}{\partial x_{j}}\right)
\left(A_{i}+\omega_{il}A_{l}\right)$  
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \sum_{i,j,k}\left(\frac{\partial A_{i}}{\partial x_{i}}-
\omega_{...
... A_{i}}{\partial x_{i}}+\omega_{il}\frac{\partial A_{l}}{\partial x_{i}}\right)$  
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \sum_{i}\frac{\partial A_{i}}{\partial x_{i}}- \sum_{ij}\omega_{j...
...{i}}{\partial x_{j}}
+\sum_{ij}\omega_{ji}\frac{\partial A_{i}}{\partial x_{j}}$  
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \sum_{i}\frac{\partial A_{i}}{\partial x_{i}}$ (84)

onde, dentro das regras de tratamento de transformações infinitesimais, desprezamos termos onde $ \omega$ aparecia ao quadrado.

A eq.(84) relata um fato muito importante: o divergente de um campo vetorial é um invariante: aquela particular combinação de componentes do campo e de derivadas parciais que o definem num sistema, definem-no em qualquer sistema, e o valor da expressão é o mesmo. Ou seja, o divergente de um campo vetorial não depende do sistema de coordenadas utilizado. Pelos nossos argumentos anteriores, temos o direito de esperar que o divergente de um campo vetorial seja uma quantidade física importante.4.


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Henrique Fleming 2003-08-11