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Apêndice

A equação

$\displaystyle \int dV u\vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=-4\pi u(0)$ (194)

merece tratamento especial. Em primeiro lugar, porque uma cálculo apressado de $ \vec{\nabla}^2\frac{1}{r}$ dá zero, o que daria zero para o primeiro membro. Mas esse cálculo está errado, pois a função $ \frac{1}{r}$ é descontínua no ponto $ r=0$. Uma maneira de descobrir que o laplaceano de $ \frac{1}{r}$ não é sempre zero é pelo uso do teorema do divergente. De fato,

$\displaystyle \vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=div \; grad \;\frac{1}{r}
= -div\;\frac{\vec{r}}{r^3}
$

logo, tomando uma esfera de raio $ R$

$\displaystyle \int dV \vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=-\int dV div \; \frac{\vec{r}}{r^3} =-\int_{S}\frac{\vec{r}}{r^3}.\vec{n}dS$ (195)

e isto é o fluxo do campo elétrico $ \frac{-\vec{r}}{r^3}$, que é o campo de uma carga -1 colocada na origem. Logo, pelo teorema de Gauss, esse fluxo é igual a $ -4\pi$. Conseqüentemente, o primeiro membro da Eq.(195) não pode ser zero, ou seja, $ \vec{\nabla}^2\frac{1}{r}$ não pode ser identicamente zero. No entanto, para $ r\neq 0$, o laplaceano é nulo, pois a função é contínua, e o cálculo direto está correto. Logo, é no ponto $ r=0$ que acontece alguma coisa interessante. Incidentalmente, mostramos que

$\displaystyle \int dV \vec{\nabla}^2 \frac{1}{r} = -4\pi$ (196)

Voltemos ao cálculo da Eq.(194). Note-se que, para qualquer $ r\neq 0$, $ \vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=0$, ou seja, o valor da função $ u$ para $ r\neq 0$ é irrelevante para o cálculo da integral, uma vez que vem sempre multiplicado por 0. O único valor de $ u$ que interessa é $ u(0)$. Logo, a integral não se altera se substituirmos $ u$ pela função constante que tem o valor $ u(0)$ em todos os pontos. Assim,

$\displaystyle \int dV u \vec{\nabla}^2\frac{1}{r} = \int dV u(0) \vec{\nabla}^2 \frac{1}{r} = u(0)\int dV \vec{\nabla}^2 \frac{1}{r} = -4\pi u(0)$ (197)

que é o resultado que queríamos obter.

Em tratamentos mais avançados se demonstra a seguinte relação:

$\displaystyle \vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=-4\pi \delta(\vec{r})$ (198)

onde, no segundo membro, aparece a ``função'' delta de Dirac. Este resultado sintetiza o resultado anterior e muitos outros semelhantes. Veja, por exemplo, as minhas notas sobre as funções de Green, e sobretudo, a grande obra de Dirac [5], ``Principles of Quantum Mechanics'', tida por muitos como o maior livro de Física desde os ``Principia'' de Newton[6].
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Henrique Fleming 2003-08-11