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Comecinho

Suponho que o leitor destas notas esteja familiarizado com funções de uma variável real, e de valores reais, que sejam contínuas e diferenciáveis até qualquer ordem. Estas funções têm o nome de funções $ C^{\infty}$. Os físicos se referem a elas dizendo que são bem comportadas.



Para um tratamento semelhante ao meu, mas com figuras bonitas, veja

http://oregonstate.edu/dept/math/CalculusQuestStudyGuides/vcalc/partial/partial.html



Para funções diferenciáveis de uma variável, temos uma maneira importantíssima de resolver o seguinte problema: dado o valor da função em um ponto $ P$, determinar o valor dela num outro ponto, bem próximo,$ P+dP$. Seja $ x$ a coordenada do ponto $ P$, e $ x+dx$ a coordenada do ponto $ P+dP$. Então

$\displaystyle f(x+dx)\approx f(x)+\left(\frac{df}{dx}\right)_{x}dx$ (1)

que é a fórmula dos acréscimos finitos.

Exercícios:
(1)Mostre que, para $ x$ muito pequeno,

$\displaystyle e^{x}$ $\displaystyle \approx$ $\displaystyle 1+x$  
$\displaystyle \sin{x}$ $\displaystyle \approx$ $\displaystyle x$  
$\displaystyle \cos{x}$ $\displaystyle \approx$ $\displaystyle 1$  
$\displaystyle \log{(1+x)}$ $\displaystyle \approx$ $\displaystyle x$  
$\displaystyle (1+x)^{\alpha}$ $\displaystyle \approx$ $\displaystyle 1+\alpha x$  

(2)A correção seguinte é dada pela fórmula

$\displaystyle f(x+dx)=f(x)+dx\;\left(\frac{df}{dx}\right)_{x}+\frac{1}{2!}(dx)^{2} \left(\frac{d^2f}{dx^2}\right)_{x}$ (2)

Para cada função do exercício (1), calcule esta nova aproximação.



Consideremos agora uma função de 3 variáveis, $ f(x,y,z)$ com valores reais. Os matemáticos diriam:

$\displaystyle f: O\subset \mathbb{R}^{3}\rightarrow \mathbb{R}$ (3)

onde $ O$ é um aberto de $ \mathbb{R}^{3}$. Gostaríamos de ter uma fórmula dos acréscimos finitos também neste caso. Para isso precisamos do conceito de derivada parcial. Uma função como a que descrevemos será diferenciável se existirem, e forem contínuas, as funções $ \frac{\partial f}{\partial x}$, $ \frac{\partial f}{\partial y}$, $ \frac{\partial f}{\partial z}$, denominadas derivadas parciais de $ f$, e definidas assim:

$\displaystyle \left(\frac{\partial f}{\partial x}\right)_{x_{0},y_{0},z_{0}}= \lim_{h\rightarrow 0}\frac{f(x_{0}+h,y_{0},z_{0})-f(x_{0},y_{0},z_{0})}{h}$ (4)

ou seja, é a derivada de $ f$ em relação a $ x$ como se $ y$ e $ z$ fossem constantes. Definições análogas são dadas para $ \frac{\partial f}{\partial y}$ e $ \frac{\partial f}{\partial z}$.



Um ponto de coordenadas $ (x_{0},y_{0},z_{0})$ pode ser representado pelo vetor $ \vec{r}_{0}=x_{0}\vec{i}+y_{0}\vec{j}+z_{0}\vec{k}$. Um ponto genérico é representado pelo vetor $ \vec{r}=x\vec{i}+y\vec{j}+z\vec{k}$. Um valor genérico da função $ f$ pode então ser escrito como

$\displaystyle f(x,y,z)=f(\vec{r})$ (5)

Diz-se que uma função $ f$ é contínua no ponto $ \vec{r}_{0}$ se, dado $ \epsilon > 0$, existe $ \delta$ tal que

$\displaystyle \vert f(\vec{r})-f(\vec{r}_{0})\vert< \epsilon \;\;\;$desde que$\displaystyle \;\;\; \vert\vec{r}-\vec{r}_{0}\vert< \delta$ (6)

Em palavras, para $ \vec{r}$ muito próximo de $ \vec{r}_{0}$, $ f(\vec{r})$ é muito próximo de $ f(\vec{r}_{0})$. Uma função é diferenciável se: (1) For contínua; (2) Seu gráfico não tiver ``bicos'' ou ``vincos''. No caso de uma função de duas variáveis, $ f(x,y)$, podemos visualizar esse conceito assim: o gráfico da função, ou seja, o gráfico $ z=f(x,y)$, é, se ela for contínua, uma superfície ``acima'' do plano $ xy$. A função é diferenciável num ponto $ (x,y)$, se o a superfície do gráfico tiver um plano tangente no ponto $ (x,y,z=f(x,y))$. Neste caso, localmente, a superfície do gráfico se confunde com o plano tangente. Veja as figuras da segunda referência da internet, abaixo.



A fórmula dos acréscimos finitos, neste caso, é

$\displaystyle f(x+dx,y+dy,z+dz)=f(x,y,z)+dx\frac{\partial f}{\partial x}+ dy\frac{\partial f}{\partial y}+dz\frac{\partial f}{\partial z}$ (7)

sendo as derivadas parciais do segundo membro calculadas no ponto $ (x,y,z)$.

Exemplos:
(1) $ f(x,y,z)=x^{2}yz+xy^{2}z+xyz^{3}$.
As derivadas parciais são:

$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial x}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle 2xyz+y^{2}z+yz^{3}$  
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial y}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle x^{2}z+2xyz+xz^{3}$  
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial z}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle x^{2}y+xy^{2}+3xyz^{2}$  

(2) $ f(x,y,z)=x+y+z$
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial x}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle 1$  
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial y}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle 1$  
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial z}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle 1$  

(3) $ f(x,y,z)=x(\log{y})e^{z}$
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial x}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle (\log{y})e^{z}$  
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial y}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{x}{y}e^{z}$  
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial z}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle x(\log{y})e^{z}$  

(4) Resultados importantes:

$\displaystyle \frac{\partial x}{\partial x}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle 1$  
$\displaystyle \frac{\partial x}{\partial y}$ $\displaystyle =$ 0  
$\displaystyle \frac{\partial x}{\partial z}$ $\displaystyle =$ 0  
etc...      



Exercícios:
(1) Considere a função $ r(x,y,z)=\sqrt{x^{2}+y^{2}+z^{2}}$
(a)Calcule as derivadas parciais $ \frac{\partial r}{\partial x}$, $ \frac{\partial r}{\partial y}$ e $ \frac{\partial r}{\partial z}$.
(b)Usando a fórmula dos acréscimos finitos, calcule $ r(x+dx,y+dy,z+dz)$.
(c) Seja $ dr=r(x+dx,y+dy,z+dz)-r(x,y,z)$ Mostre que

$\displaystyle dr^{2}=dx^{2}+dy^{2}+dz^{2}
$



A fórmula dos acréscimos finitos, eq.(7), pode ser reescrita em termos de vetores: seja $ d\vec{r}=dx\vec{i}+dy\vec{j}+dz\vec{k}$. Defino o gradiente de $ f$ assim:

$\displaystyle \vec{\nabla}f \equiv \frac{\partial f}{\partial x}\vec{i}+ \frac{\partial f}{\partial y}\vec{j}+\frac{\partial f}{\partial z}\vec{k}$ (8)

O símbolo $ \vec{\nabla}$ é pronunciado ``nabla'' porque, diz-se, tem a forma de uma antigo instrumento musical hebraico. Outros dizem que é a letra ``G'' no alfabeto Klingon. Go figure!

O fato é que a fórmula dos acréscimos finitos pode agora ser escrita assim:

$\displaystyle df \equiv f(\vec{r}+d\vec{r})-f(\vec{r})=d\vec{r}.\vec{\nabla}f$ (9)



Exemplos:
(1)A função $ r(x,y,z)=\sqrt{x^2+y^2+z^2}$ é a distância do ponto de coordenadas $ x$, $ y$ e $ z$ à origem. Calculemos o seu gradiente. Verifica-se facilmente que

$\displaystyle \frac{\partial r}{\partial x}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{x}{r}$  
$\displaystyle \frac{\partial r}{\partial y}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{y}{r}$  
$\displaystyle \frac{\partial r}{\partial z}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{z}{r}$  

Logo, temos

$\displaystyle \vec{\nabla}r=\frac{1}{r}(x\vec{i}+y\vec{j}+z\vec{k})
$

e, como $ x\vec{i}+y\vec{j}+z\vec{k}=\vec{r}$, o resultado é

$\displaystyle \vec{\nabla}r=\frac{\vec{r}}{r}
$

Notando que $ r$ é o módulo de $ \vec{r}$, vemos que o gradiente de $ r$ é o vetor unitário na direção radial, ou seja, na direção em que a distância do ponto $ (x,y,z)$ à origem cresce mais rapidamente. Veremos que isto não é coincidência.
(2) Considere uma função qualquer da variável $ r$, que vem a ser a função descrita acima. Temos aqui um caso de função composta (ou ``função de função''):

$\displaystyle f(r)=f(r(x,y,z))
$

e a função é, em última análise, função de $ x$, $ y$ e $ z$. Temos, então, de calcular derivadas $ \frac{\partial f}{\partial x}$, etc. Demonstra-se o importante resultado, denominado regra da cadeia:1
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial x}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{df}{dr}\frac{\partial r}{\partial
x}$  
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial y}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{df}{dr}\frac{\partial r}{\partial
y}$  
$\displaystyle \frac{\partial f}{\partial z}$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{df}{dr}\frac{\partial r}{\partial
z}$  

Podemos agora calcular $ \vec{\nabla}f$:
$\displaystyle \vec{\nabla}f(r)$ $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{\partial f}{\partial x}\vec{i}+\frac{\partial
f}{\partial y}\vec{j}+\frac{\partial f}{\partial z}\vec{k}$  
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{df}{dr}\left(\frac{\partial r}{\partial x}\vec{i}+\frac{\partial
r}{\partial y}\vec{j}+\frac{\partial r}{\partial z}\vec{k}\right)$  
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{df}{dr}\vec{\nabla}r$  

Obtivemos, assim, uma fórmula muito importante:

$\displaystyle \vec{\nabla}f(r) = \frac{df}{dr}\frac{\vec{r}}{r}$ (10)

Exemplos:

$\displaystyle \vec{\nabla}r^2=\frac{dr^2}{dr}\vec{\nabla}r=2r\frac{\vec{r}}{r}=2\vec{r}
$

$\displaystyle \vec{\nabla}\frac{1}{r}=\left(-\frac{1}{r^2}\right)\frac{\vec{r}}{r}=-\frac{\vec{r}}{r^3}
$


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Henrique Fleming 2003-08-11