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Nesta seção discutimos funções de
em
. A
observação fundamentalsobre a função
é que ela pode ser completamente descrita por
funções de
.
7.1 Definição Dada uma função
, sejam
,...
funções reais definidas em
, tais que
para todo
de
. Essas funções chamam-se
funções coordenadas euclideanas de
, e é costume
escrever-se:
.
A função
é diferenciável se suas funções
coordenadas o forem. Uma função diferenciável
é chamada de mapeamento
de
em
. Note que
.
7.2 Definição Se
é uma curva em
e
é um mapeamento,
então a função composta
é uma curva em
denominada
imagem de
sob
.
7.3 Exemplo
(1) Considere o mapeamento
tal
que
ou, mais precisamente,
Este mapeamento é muito simples porque é linear. Neste caso é
sabido que
é completamente determinado pelos seus valores em
três pontos linearmente independentes, como, por exemplo,
(2) O mapeamento
tal que
onde
e
são as funções coordenadas de
.
Para analisar este mapeamento, vamos examinar o seu efeito sobre a
curva
Esta curva descreve, em sentido antihorário, um arco de círculo
de raio
com centro na origem. A curva imagem é
Portanto,
Esta curva descreve dois arcos de círculo, em sentido
antihorário, em torno da origem e de raio
.
Em linhas gerais, o cálculo diferencial aproxima objetos contí
nuos por objetos lineares. Nesta linha, dado um mapeamento
, vamos definir uma aproximação linear para
ele, perto de um ponto
.
É possível atingir todos os pontos de
através de retas
, partindo de
e escolhendo adequadamente
e
. Da mesma forma
pode ser ``varrido'' pelas imagens de
por
, ou seja,
começando em
. Vamos aproximar
nas vizinhanças de
pelo mapeamento
, que leva cada velocidade inicial
na velocidade inicial
.
7.4 Definição Seja
um mapeamento.
Seja
um vetor tangente a
em
, e denotemos por
a velocidade inicial da curva
A função resultante
leva vetores tangentes a
em vetores tangentes
a
, e é chamada mapeamento tangente de
.
7.5 Proposição Seja
um
mapeamento de
em
. Se
é um vetor tangente
a
em
, então
Prova: Vamos tomar
para fixar as idéias. Então
Por definição ,
. Para obter
,
derivamos, em
, as funções coordenadas de
. Mas
Logo,
e
.
7.6 Corolário Se
é um mapeamento,
então em cada ponto
de
, o mapeamento tangente
é uma transformação linear.
Prova: Temos que mostrar que, para
,
,
,
arbitrários,
De fato, o mapeamento tangente
em
é a transformação
linear que melhor aproxima
nas vizinhanças de
.
7.7 Corolário Seja
um mapeamento. Se
é a imagem da curva
em
, então
.
Prova:
Mas
logo,
Sejam
,
e
,
os referenciais naturais de
e
respectivamente.
Então ,
7.8 Corolário Se
é um mapeamento
de
em
, então
Dem: Imediata, lembrando que
.
Seja
um espaço vetorial, com base
. Seja
um outro espaço vetorial, com base
. Seja
linear. Chama-se elementos de matriz de
em relação
às bases
e
os números
na equação
Logo, o Corolário 7.8 nos diz que, se
, os elementos
de matriz de
em relação aos referenciais naturais de
e
são , no ponto
, os números
. Ou seja, a matriz que representa a transformação linear
nessas
bases é a matriz jacobiana da função
. Isto nos sugere outro nome
para
: derivada de
.
7.9 Definição Um mapeamento
é
regular se, para todo
, o mapeamento tangente
for
(injetor).1
Como mapeamentos tangentes são lineares, segue diretamente da álgebra linear que as seguintes
condições são equivalentes:
(1)
é injetora.
(2)
(3) A matriz jacobiana de
em
tem posto
(que é a dimensão
de
).
A seguinte propriedade de transformações lineares
será
útil:se os espaços vetoriais
e
têm a mesma dimensão , então
é injetora se e só se ela for sobrejetora.
Um mapeamento que tem um mapeamento inverso é chamado de
difeomorfismo. Lembre-se de que estamos exigindo de um mapeamento que seja
diferenciável. Quando considerarmos aplicações mais gerais, um difeomorfismo
será uma aplicação diferenciável que possui uma inversa também diferenciável.
7.10 Teorema: Seja
um mapeamento
entre espaços euclideanos de mesma dimensão . Se
é injetora
em um ponto
, existe um aberto
contendo
tal que a restrição de
a
é um difeomorfismo de
sobre um aberto
.
Este teorema, de demonstração difícil, é chamado de teorema
da função inversa.
7.11 Definição Funções tangentes.
Seja
um aberto;
um ponto de
e
contínuas em
. Diz-se que
e
são tangentes em
se
(1)
(2)
onde
é a norma do vetor
(por exemplo, a norma
euclideana).
O nome se justifica. Tomemos, para simplificar, o caso em que
. Então
o limite da definição diz que, se
e
são tangentes em
, teremos,
próximo a
,
e, para que
, é preciso que
. Ou seja, nas vizinhanças de
, as funções tangentes diferem
só a partir da segunda ordem em
.
7.12 Proposição Suponhamos que, dentre as funções tangentes,
em
, à função
, existam duas funções lineares,
e
. Isto
é, suponhamos que
sejam tangentes a
em
. Então,
.
Prova:
(1)
é tangente a
(trivial).
(2) Temos, então ,
Introduzo
e
. Então ,
Isto quer dizer que, para qualquer
, existe
tal que,
se
,
 |
(4) |
Considere a seguinte escolha de
:
onde
é um vetor não -nulo qualquer. Temos
e a Eq.(4) vale. Logo,
ou ainda
para
arbitrário e para todo
. Para
, temos
. Para
não -nulo, a desigualdade de cima exige
.2 Logo,
para todo
. Segue que
, ou,
. Em conseqüência a aplicação
linear tangente a uma função contínua em
, se existir, é única.
7.14 Definição Dizemos que uma aplicação contínua
de
em
é diferenciável no ponto
se existir
uma aplicação linear
de
tal que
seja tangente a
em
. Acabamos de ver que esse
mapeamento, quando existe, é único.
é denominado derivada
de
no ponto
, e é denotado por
ou
.
Exemplos:
1.A aplicação
, de
é diferenciável.
Por que? Qual é a sua diferencial?
A função pode ser escrita
. Ela é linear, pois
Como
é linear, ela coincide com a derivada. Então,
.
2.
. Determinar a diferencial.
Para ser mais explícito, vou denotar
por
. Considere a
aplicação
Então temos
Para que
seja a derivada de
em
devemos ter
ou seja, que
nolimite em que
é suficientemente pequeno. Isto é claramente
possível, pois, para
e
suficientemente pequenos,
Resta verificar, o que é muito simples e pode ser feito pelo leitor, que
é linear.
Uma vez que
é linear, podemos calcular seus
elementos de matriz. Estes são obtidos aplicando
aos
vetores de base de
:
Note-se que
, logo,
The partial derivatives of
and
are given by
Como podemos escrever
segue, usando os valores das derivadas parciais, que
de onde fica claro que as derivadas parciais são os elementos de
matriz
de
.
3.
, dada por
Para que isto se anule devemos ter
ou seja, a derivada de
é a função linear
Normalmente dizemos que a derivada da função
no ponto
é o número
. Isto não é inconsistente. De fato, no
espaço
vetorial
, de uma dimensão, seja
o vetor da base
natural, e
uma aplicação linear qualquer. Seja
um vetor de
. Temos
ou seja, uma aplicação linear
consiste sempre em multiplicar o vetor sobre o qual ela atua por um
número, característico da aplicação, podendo-se então
identificar cada aplicação linear com um número. Na análise
clássica chama-se a esse número de derivada.
7.15 Continuidade de uma aplicação linear
Sejam
e
espaços vetoriais com normas definidas e
uma
aplicação linear de
em
. Afim de que
seja contínua, é necessário
e suficiente que exista
tal que, para todo
,
Dem;Elon Lages Lima, Análise Matemática II
7.16 Teorema Se a aplicação contínua
de
em
é diferenciável no ponto
, a derivada
é uma aplicação linear
contínua de
.
Dem:A continuidade de
significa que, dado
, existe
tal que
A diferenciabilidade em
exige que, nas mesmas condições,
Ora,
logo,
e, tomando o máximo
,
Conseqüentemente,
Tomando
, com
qualquer, temos
. Logo,
. Mas
Logo,
para todo
. A função
é, então, contínua.
7.17 Teorema A regra da cadeia.
Sejam
,
,
três espaços vetoriais normados,
uma vizinhança aberta de
,
uma aplicação contínua de
em
,
,
uma vizinhança aberta de
em
,
uma
aplicação contínua de
em
. Então, se
é diferenciável em
e
é diferenciável em
, a aplicação
é
diferenciável em
, e se tem
Dem:Too boring inequality juggling! (Dieudonné, Foundations of
Modern Analysis, Parágrafo (8.2.1), pg.151.)
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Henrique Fleming
2002-10-02