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1-Formas

Seja $f:\mathbb{R}^3\rightarrow
\mathbb{R}$. Elementarmente usa-se definir a diferencial de $f$ como

\begin{displaymath}
df=\frac{\partial f}{\partial x}dx+\frac{\partial f}{\partial y}dy+
\frac{\partial f}{\partial z}dz
\end{displaymath}

sem esclarecer o que esta expressão formal significa. A seguir daremos um significado preciso à noção de diferencial de uma função.


5.1 Definição Uma 1-forma em $\mathbb{R}^3$ é uma função real $\phi$ (isto é, a valores reais) sobre o conjunto dos vetores tangentes a $\mathbb{R}^3$, tal que $\phi$ é linear em cada ponto, isto é,

\begin{displaymath}
\phi(a\vec{v}+b\vec{w})=a\phi(\vec{v})+b\phi(\vec{w})
\end{displaymath}

para quaisquer números $a, b$ e quaisquer vetores tangentes $\vec{v},\vec{w}$ em um ponto arbitrário de $\mathbb{R}^3$. Assim, dada $\phi$, $\phi(\vec{v}$ é um número. No ponto $\vec{p}$, ponto de aplicação de $\vec{v}$, a função

\begin{displaymath}
\phi_p: T_p(\mathbb{R}^3)\rightarrow \mathbb{R}
\end{displaymath}

é linear. Então, em cada ponto $\vec{p}$, $\phi_p$ é um elemento do espaço dual de $T_p(\mathbb{R}^3)$. Neste sentido, a noção de 1-forma é dual à de campo vetorial. A soma de 1-formas $\phi$ e $\psi$ é definida ponto-a-ponto:

\begin{displaymath}
(\phi+\psi)(\vec{v})=\phi(\vec{v})+\psi(\vec{v})
\end{displaymath}

para todo $\vec{v}$ em $T_p(\mathbb{R}^3)$. De modo semelhante, se $f$ é uma função real em $\mathbb{R}^3$ e $\phi$ é uma 1-forma, então a 1-forma $f\phi$ é definida assim:

\begin{displaymath}
(f\phi)(\vec{v}_p)=f(\vec{p})\phi(\vec{v}_p)
\end{displaymath}

para todos os vetores tangentes $\vec{v}_p$. Daí decorre uma maneira natural para calcular a ação de uma 1-forma $\phi$ sobre um campo vetorial $V$, dando uma função real $\phi(V)$:

\begin{displaymath}
\left(\phi(V)\right)(\vec{p})=\phi\left(V(\vec{p})\right)
\end{displaymath}

Pode-se então interpretar também uma 1-forma como uma máquina que converte campos vetoriais em funções reais. Diz-se que $\phi$ é diferenciável quando $\phi(V)$ é diferenciável para qualquer $V$ diferenciável. A partir de agora vamos sempre supor que as 1-formas, bem como os campos vetoriais, são diferenciáveis. As seguintes propriedades da linearidade valem:

\begin{eqnarray*}
\phi(fV+gW) & = & f\phi(V)+g\phi(W)\\
(f\Phi+g\psi)(V) & = & f\phi(V)+g\psi(V)
\end{eqnarray*}



onde $f$ e $g$ são funções. Usando a noção de derivada direcional vamos introduzir agora uma maneira muito importante de construir !-formas a partir de funções.


5.2 Definição Seja $f:\mathbb{R}^3\rightarrow
\mathbb{R}$ diferenciável. A diferencial $df$ de $f$ é uma 1-forma tal que

\begin{displaymath}
df(\vec{v}_p)=\vec{v}_p[f]
\end{displaymath}

para todos os vetores tangentes $\vec{v}_p$. Comentário: A $df$ assim definida é efetivamente uma 1-forma, pois é uma função a valores reais sobre os vetores tangentes e que, pela parte (1) do teorema 3.3, é linear em cada ponto $\vec{p}$. Note-se que $df$ sabe como $f$ varia em todas as direções de $\mathbb{R}^3$, o que dá uma medida de sua potência.


5.3 Exemplos 1-formas em $\mathbb{R}^3$ .
(1) As diferenciais $dx_1$,$dx_2$,$dx_3$ das funções coordenadas naturais.

\begin{displaymath}
dx_i(\vec{v}_p)=\vec{v}_p[x_i]=\sum_jv_j\frac{\partial x_i}{\partial
x_j}(\vec{p})=
\sum_j v_j\delta_{ij}=v_i
\end{displaymath}

Assim, o valor de $dx_i$ em um vetor tangente arbitrário $\vec{v}_p$ é a i-ésima componente $v_i$ de sua parte vetorial.
(2) A 1-forma $\psi=f_1dx_1+f_2 dx_2+f_3 dx_3$

\begin{eqnarray*}
\psi(\vec{v}_p) & = & f_1(\vec{p})dx_1(\vec{v}_p)
+f_2(\vec{...
...+f_3(\vec{p})v_3\\
\psi(\vec{v}_p) & = & \sum f_i(\vec{p})v_i
\end{eqnarray*}



(3) Em particular, tomando como vetores os $U_{ip}$, temos

\begin{displaymath}
dx^{j}(U_{ip})=\delta_{i}^{j}
\end{displaymath}

e, assim, $dx_1$,$dx_2$,$dx_3$ formam a base dual de $U_1$, $U_2$,$U_3$, que é a base natural de $\mathbb{R}^3$.



5.4 Lema Se $\phi$ é uma 1-forma em $\mathbb{R}^3$, então $\phi=\sum f_i dx_i$, onde $f_i=\phi(U_i)$. Essas funções $f_1$, $f_2$, $f_3$, são chamadas funções coordenadas euclideanas de $\phi$.
Dem.: Um vetor tangente genérico pode ser escrito

\begin{displaymath}
\vec{v}_p=\sum v_i U_i(\vec{p})
\end{displaymath}

logo,

\begin{displaymath}
\phi(\vec{v}_p)=\phi(\sum v_i U_i(\vec{p}))=
\sum v_i \phi(U_i(\vec{p}))=\sum v_i f_i(\vec{p})
\end{displaymath}

onde denotamos $\phi(U_i(\vec{p}))$ por $f_i(\vec{p})$. Mas

\begin{displaymath}
\left(\sum f_i dx_i\right)(\vec{v}_p)=\sum_{i}f_i(\vec{p})
dx_i(\vec{v}_p)=\sum_{i} f_i(\vec{p})v_i
\end{displaymath}

logo, $\phi=\sum_{i} f_i dx_i$, onde $f_i(\vec{p})=\phi(U_i(\vec{p}))$. Este lema mostra que uma 1-forma em $\mathbb{R}^3$ não é senão uma expressão $f dx+g dy+h dz$, onde os $dx_i$ são precisamente definidos.


5.5 Corolário: Seja $f$ uma função diferenciável em $\mathbb{R}^3$ . Então,

\begin{displaymath}
df = \sum \frac{\partial f}{\partial x_i} dx_i
\end{displaymath}

Dem.:

\begin{displaymath}
\sum\frac{\partial f}{\partial x_i} dx¯(\vec{v}_p)=
\sum \frac{\partial f}{\partial x_i}(\vec{p})v¯
\end{displaymath}

Ora,

\begin{displaymath}
df(\vec{v}_p)=\vec{v}_p[f]=\sum_i\frac{\partial f}{\partial x_i}
(\vec{p})v^i
\end{displaymath}

o que demonstra o corolário.
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Henrique Fleming 2002-10-02