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As formas invariantes e a álgebra de Lie

Seja $G$ um grupo de Lie e seja $a\in G$. Considere a aplicação $L_a:G \rightarrow G$, definida por

\begin{displaymath}
L_a x=ax
\end{displaymath}

que é diferenciável. Então existe $L_a*:G_x\rightarrow G_{ax}$, e sua transposta, $L_a^{*}:G_{ax}^*\rightarrow G_x^*$, bem como suas extensões homomórficas, denotadas pelos mesmos símbolos. Note que $L_a$ é $1-1$. De fato, sejam $x\;,x^\prime\;\in G$, tais que

\begin{displaymath}
L_{a} x=L_a x^\prime
\end{displaymath}

Então, $ax=ax^\prime$. Como existe $a^{-1}$, temos

\begin{displaymath}
a^{-1}ax=a^{-1}ax^\prime \rightarrow x=x^\prime
\end{displaymath}

QED
Seja $\Omega$ uma forma diferencial sobre $G$. Diz-se que $\Omega$ é invariante à esquerda se $L_a^*\Omega=\Omega$ para todo $a\in g$.

Proposição: Se $\omega_1$ e $\omega_2$ são p-formas invariantes à esquerda, também o serão $b\omega_1+c\omega_2$ e $\omega_1\wedge \omega_2$, para quaisquer $b$ e $c$. Além disso, $d\omega$ é invariante à esquerda, se $\omega$ o for.
Demonstração:

\begin{displaymath}
L_a^*(b\omega_1+c\omega_2)=bL_a^*\omega_1+cL_a^*\omega_2=b\omega_1+c\omega_2
\end{displaymath}


\begin{displaymath}
L_a^*(\omega_1\wedge
\omega_2)=(L_a^*\omega_1)\wedge(L_a^*\omega_2)=\omega_1\wedge\omega_2
\end{displaymath}


\begin{displaymath}
L_a^* d\omega=dL_a^*\omega = d\omega
\end{displaymath}

Em outras palavras, o espaço das formas invariantes à esquerda é uma sub-álgebra da álgebra de todas as formas sobre $G$, e é fechada pela operação $d$. Chamaremos esta álgebra das formas invariantes à esquerda, de $\mathcal{A}_l(G)$.

Seja $T_e^*(G)$ o dual do espaço tangente a $G$ em $e$. Sabemos que podemos construir, se $dim \; G=d$, todas as potências exteriores $\Lambda^p T_e^*(G)$, para $p\leq d$. Denotaremos por $\Lambda \left(T_e^*(G)\right)$ o conjunto de todos os espaços vetoriais $\Lambda^p\left(T^*_e(G)\right)$, para $0\leq p \leq d$.



Teorema Seja $G$ um grupo de Lie e $e$ o elemento identidade. O mapeamento $\omega \mapsto \omega_e$, que associa a cada p-forma invariante à esquerda sobre $G$ o seu valor $\omega_e$ na identidade $e$, é um isomorfismo de $\mathcal{A}_l(G)$ sobre $\Lambda^p\left(T^*_e(G)\right)$.
Dem: o mapeamento é obviamente linear. Vamos mostrar que é 1-1 e sobrejetor.
1.O mapeamento é injetor (1-1).
Queremos mostrar que, dadas duas p-formas $\omega$ e $\omega^\prime$, de $\mathcal{A}_l(G)$, se $\omega_e=\omega^\prime_e$, então $\omega_a=\omega^\prime_a$ pata todo $a$, ou seja,

\begin{displaymath}
\omega_e=\omega^\prime_e \rightarrow \omega = \omega^\prime
\end{displaymath}

Pela definição de $L_a^*$, temos que

\begin{displaymath}
L_a^*\omega(v)=\omega(L_a* v)\end{displaymath}

ou

\begin{displaymath}
\langle v, L_a^*\omega\rangle = \langle L_a*v, \omega\rangle
\end{displaymath}

Como isto é válido para todo $v$, temos que

\begin{displaymath}
L_a^*\omega=\omega \circ L_a*
\end{displaymath}

Tomemos o caso particular $L_a:e \rightarrow a$, e, portanto,
$\displaystyle L_a*$ $\textstyle :$ $\displaystyle T_e(G) \rightarrow T_a(G)$ (4)
$\displaystyle L_a^*$ $\textstyle :$ $\displaystyle T_a^*(G) \rightarrow T_e^*(G)$ (5)

Então, se $\omega$ é uma forma em $G$ e seu valor em $a$ é $\omega_a$, temos

\begin{displaymath}
\left(L_a^*\omega\right)_e=\omega \circ L_a*
\end{displaymath}

e, analogamente,

\begin{displaymath}
\left(L_a^*\omega^\prime\right)_e=\omega_a^\prime\circ L_a8
\end{displaymath}

Mas $\omega$ e $\omega^\prime$ são invariantes à esquerda. Logo,

\begin{displaymath}
\left(L_a^*\omega\right)_e=\omega_e=\omega^{\prime}_{e}=\left(
L_a^*\omega^\prime\right)_e
\end{displaymath}

Segue que

\begin{displaymath}
\omega_a\circ L_a* =\omega^\prime_a\circ L_a*
\end{displaymath}

para qualquer $a$. Como $L_a*$ é 1-1, podemos concluir que

\begin{displaymath}
\omega_a=\omega^\prime_a \forall a
\end{displaymath}

ou seja,
\begin{displaymath}
\omega=\omega^\prime
\end{displaymath} (6)

2.O mapeamento é sobrejetor. Ou seja, dada qualquer forma $\alpha$ em $\Lambda T_e^*(G)$, existe uma forma invariante à esquerda $\omega$ tal que seu valor em $e$ é $\omega_e=\alpha$. Seja $\alpha
\in \Lambda T_e^*(G)$. Basta definir $\omega$ por
\begin{displaymath}
\omega_a=\alpha\circ L_a^{-1}*
\end{displaymath} (7)

Então

\begin{displaymath}
\omega_e=L_a^*\omega=\omega_a\circ L_a* = \alpha\circ L_a^{-1}*\circ
L_a* = \alpha
\end{displaymath}

Em particular, o espaço das 1-formas invariantes à esquerda te dimensão $d$ (que é a dimensão de $G$). Seja $\omega^1,...\omega^d$ uma base para 1-formas em $G$. Então, como $d\omega^i\;\;(i=1,...,d)$ é uma 2-forma invariante à esquerda, temos
\begin{displaymath}
d\omega^i=\sum_{1\leq j < k \leq d}C^i_{jk}\omega^j\wedge\omega^k
\end{displaymath} (8)

Aplicando $L^*_a$ a ambos os mambros, temos
$\displaystyle L_a^* d\omega^i$ $\textstyle =$ $\displaystyle \sum (L_a^* C_{jk}^i)(L_a^*\omega^j)
\wedge(L_a^* \omega^k)$ (9)
$\displaystyle d\omega^i$ $\textstyle =$ $\displaystyle \sum(L_a^* C^i_{jk})\omega^j\wedge\omega^k$ (10)

Comparando, temos
\begin{displaymath}
L_a^*C^i_{jk}=C^i{jl}
\end{displaymath} (11)

ou seja, os $C^i_{jk}$ são constantes. Essas constantes são denominadas constantes de estrutura de $G$, e as equações
\begin{displaymath}
d\omega^i=\sum_{(j,k)}C^i_{jk}\omega^j\wedge \omega^k
\end{displaymath} (12)

são as equações de Maurer-Cartan.

Seja $X$ um campo vetorial sobre $G$. Diz-se que $X$ é invariante à esquerda se $L_a*X=X\;, \forall a \in G$. Se $X$ e $Y$ são invariantes à esquerda, $X+Y$ e $[X,Y]$ também o são (Bishop, pg.139).

Considere o mapeamento dado por $X\mapsto X_e$, onde $X$ é um campo vetorial invariante à esquerda. Analogamente ao caso de formas, demonstra-se que esse mapeamento é 1-1 e sobrejetor. Seja então $X_1, X_2,...,X_d$ uma base para campos vetoriais em $G$. Seja $\alpha^1,...,\alpha^d$ a base de $T_e(G)$ dual da base $X_{1e},...X_{de}$. Sejam ainda $\omega^1,...,\omega^d$ formas invariantes à esquerda tais que $\omega^j_e=\alpha^j$. Então,

\begin{displaymath}
\langle X_i\vert\omega^j\rangle = \delta^j_{\;i}
\end{displaymath} (13)

Ora,
\begin{displaymath}
2d\omega^i(X_j,X_k)=X_j\omega^i(X_k)-X_k\omega^i(X_j)-\omega^i\left([X_j,X_k]\right)
\end{displaymath} (14)

e, como os dois primeiros termos da direita são nulos,
\begin{displaymath}
2d\omega^i(X_j,X_k)=-\omega^i\left([X_j,X_k]\right)
\end{displaymath} (15)

Por outro lado, das equações de Maurer-Cartan,
\begin{displaymath}
d\omega^i(X_j,X_k)=C^i_{lm}\omega^l\wedge\omega^m(X_j,X_k)=C^i_{jk}
\end{displaymath} (16)

e, como $\omega^i([X_j,X_k])$ é a i-ésima componente do campo vetorial $[X_j,X_k]$ na base $X_i$,
\begin{displaymath}[X_j,X_k]=\omega^i\left([X_j,X_k]\right)=-2C^i_{jk}X_i
\end{displaymath} (17)

Para manter a tradição, definimos novas constantes de estrutura
\begin{displaymath}
c^i_{jk}=-2C^i_{jk}
\end{displaymath} (18)

Então,
\begin{displaymath}[X_j,X_k]=c^i_{jk}X_i
\end{displaymath} (19)

e
\begin{displaymath}
d\omega^i=-\frac{1}{2}c^i_{jk}\omega^j\wedge\omega^k \; ,
\end{displaymath} (20)

como se encontra, por exemplo, em Kobayashi, Nomizu, Foundations of Differential Geometry.
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Henrique Fleming 2001-12-26